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Livro físico x Livro digital

Construí o gosto pela leitura com livros Sabrina e Júlia que minha mãe trocava por 2 reais na banca de revistas da cidade. Eram livros para troca e ela saía de casa com duas sacolas na mão para devolver os que já havia lido e pegar alguns novos. Ela não decorava os títulos – que eram muito parecidos, diga-se de passagem – então assinava na folha de rosto dos que já haviam ido para casa. Junto do nome dela sempre tinha uma Helena, que havia lido antes. Eu não sei quem ela é, mas gostava de a imaginar lendo numa varanda com rede e um suco de frutas na mesinha ao lado.

Esse foi meu primeiro contato direto com livros. Suas páginas eram amareladas, manchadas de café, riscadas por crianças, dobradas, arrancadas e coladas com fita. Por isso demorei tanto para me render ao livro digital. Ele não entrega histórias além das escritas e isso me frustra. Mas a verdade é que ele facilita o hábito, costuma ser mais barato e me deixa ler uma amostra antes de decidir pela compra. Com o Kindle [da Amazon] eu leio mais, mas com o livro físico eu vivo histórias além.

O que me ajuda a decidir entre um e outro é o que eu quero manter por perto e o que vou ler sem me apegar. “Esse título eu quero que meus filhos tenham fácil acesso? Essa edição tá especial? Essa autora eu quero abraçar e agradecer?” Com essas e outras perguntas eu decido o que mora na estante e o que vive na biblioteca online. Resisti ao digital até entender que ele é um complemento importante pra mim, que vivo de ler, escrever e criar. Me render a outros formatos é também me manter fiel a mim mesma. Ler é o que me importa mais.

– Adeline Daniel

 

Pensando em contar um pouco dos bastidores da vida dos escrevedores, convidamos algumas escrevedoras que tem lugar cativo em nosso corazón para dividir diversos assuntos. Adê foi a segunda da série e Tati Sabadini a primeira. Quer ler o texto dela? Clica aqui

Adeline Daniel é escritora, leitora e bordadeira. Além de mineira, lésbica e feliz. Tem memória excelente pro que mexe com os sentidos, mas é péssima pra lembrar do que é insosso. Escreve pra não sufocar, lê para sentir e borda pra comunicar. Mistura os três sempre que possível.


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